
Self ( Si-mesmo )
Para Jung, o complexo do eu (ego) não existe apenas associado a outros complexos da psique, mas retira sua estabilidade e ser crescimento de um senso mais amplo e completo da totalidade humana, que Jung via como arquetipicamente embasada. Esse arquétipo de totalidade, ele chamou de Si-mesmo ( Self ): o arquétipo de um princípio organizador e supraordinário de individualidade psíquica.
Jung descobriu símbolos do Si-mesmo ( Self ) arquetípico em muitos sistemas religiosos do mundo, e os escritos dele se sustentam como testemunha do contínuo fascínio dele por esses símbolos de completude e integração: o passado paradisíaco de unidade não rompida simbolizada pelo Jardim do Éden ou pela Era Dourada do Olimpo; o mitológico Ovo Cósmico do qual toda a criação teria saído; o Homem Original hermafrodita, ou antropos, que representa a humanidade antes de sua queda e degradação, ou o ser humano mais puro, como Adão, Cristo ou Buda; os mandalas da prática religiosa asiática, aqueles círculos extraordinariamente belos dentro de quadrados, usados como foco de disciplina meditativa, com a intenção de levar o indivíduo a uma maior consciência de toda a realidade.
Como psicólogo, mais do que como filósofo ou téologo, Jung notou que esse arquétipo organizador de totalidade era particularmente bem apreendido e desenvolvido por meio de imagens especificamente religiosas, e ele, então, veio a compreender que a manifestação psicológica do Self era realmente a vivência de Deus ou da "Imagem-Deus dentro da alma humana". Obviamente, Jung não pretendia reduzira todo-poderosa e transcendente entidade divina a uma experiência psicológica, um mero arquétipo do inconsciente coletivo humano; em vez disso, o objetivo dele era mostrar como a imagem de Deus existe dentro da psique e age de modo apropriadamente semelhante ao de Deus, seja a crença em Deus da pessoa consciente ou não.
Mais adiante, Jung percebeu que, se a psique é um fenômeno natural e intencional, muita dessa intencionalidade parecia centrada na ação do Si-mesmo (Self) arquetípico dentro dela. A significância de eventos, o mistério de intervenções e soluções que aparecem no meio de situações problemáticas, os fenômenos sincronísticos nos quais estranhas coincidências resultam na transformação de atitudes prévias - todas essas ocorrências psíquicas Jung atribuiu a manifestações do Self, pois tais fenômenos esclareciam e facilitavam um sentido com maior englobamento da existência de uma pessoa. A inferência natural a essa observação é que a análise psicológica ajuda aforjar uma maior conexão do indivíduo com o Si-mesmo (Self), moderando a inflação ou a alienação que ocorre quando o eu individual está identificado intimamente demais com ou está fora de alcance do Si-mesmo e de seu poder integrador.
A natureza do Si-mesmo como a imagem psicológica da transcendência torna grande parte dos escritos de Jung sobre esse arquétipo difícil de acompanhar, já que os trechos relevantes normalmente ocorrem dentro do contexto imagístico religioso ou em discussões sobre o processo de individuação. A obra prima de Jung sobre o simbolismo cristão, 'Aion', cujo subtítulo é "Estudos sobre o simbolismo do Si-mesmo", é o estudo mais extenso das ideias dele sobre o Si-mesmo, mas pode ser de difícil leitura. Em 'Para Começar' , portanto, estão listadas as definições de Jung para Si-mesmo em 'Tipos Psicológicos', seguidas por duas sessões de 'Aion' que não requerem preparos nem pesquisas prévias. Para explorar mais o tema, é preciso embrenhar em leituras que não lidam com o Si-mesmo diretamente, mas abordam o tema por meio de exames detalhados de simbolismo tirado da religião, prática clínica e outras fontes. Mais surpreendente para um leitor não familiarizado com a Obra Completa pode ser a investigação por parte de Jung de objetos voadores não identificados ( singular e imparcialmente denominados de "coisas vistas no céu" ) como símbolos possíveis de totalidade para além de nossa experiência imediata. Essas leituras sobre o Si-mesmo são um exemplo do que Jung chamava de 'Circumambulação', circular ao redor de um conceito até que seus vários aspectos sejam esclarecidos e compreendidos.
Entre as fontes secundárias, o clássico texto de Edward Edinger, Ego e Arquétipo, estuda a relação entre o eu e o Si-mesmo teoricamente; 'Encounter with the Self' ( O Encontro com o Self ), dele também, examina a mesma relação eu-Si-mesmo por meio de ilustrações de William Blake para o Livro de Jó; e a transcrição de uma palestra dele, 'The transformation of the God-image' , sobre "Resposta a Jó", de Jung, fornece uma profundidade maior num formato acessivel . "Longing for Paradise ( Saudades do Paraíso ) examina os mitos do paraíso como símbolos do Si-mesmo no amadurecimento do inconsciente coletivo e no processo de individuação, e dois ensaios em particular, " Cosmic Man " e "Jung's Discovery of the Self" , na coletânea de Von Franz, esclarecem o conceito no pensamento de Jung.
Para começar:
- Tipos Psicológicos, OC 6, cap. 11, "Definições " , em "Si-mesmo", 902 .
- Aion, OC 9/2, esp. cap. 4, " O Si-mesmo", § 43-67, e cap. 5, "Cristo, símbolo do si-mesmo" §68-126
Para aprofundar:
- O Eu e o Inconciente, OC 7/2, esp. cap. 1, " A função do inconsciente ", §266-295, e cap. 4, " A personalidade mana", § 374-406.
- " Estudo empírico do processo de individuação ", OC 9/1, § 525-626
- " O simbolismo do mandala ", OC 9/1, § 627-718
- " Interpretação psicológica do Dogma da Trindade ", OC 11/2 esp. cap. 4-6, § 222-295
- " O símbolo da transformação na missa, OC 11/2, cap. 4, " Psicologia da Missa", seção 3, " A missa e o processo de individuação", § 414-467
Obras relacionadas
- Um mito moderno sobre as coisas vistas no céu, OC 10/4, § 589-824 e prefácio.
- Presente e Futuro, OC 10/1, § 488-588.
Fontes Secundárias
- EDINGER E.F. The transformation of the God-Image: An elucidation os Jung's Answer to Job. 1992.
------------------. Encounter with the Self. O Encontro com o Self . Cultrix, 1991.
------------------. Ego e Arquétipo. Cultrix 1992.
- JACOBI, M. Longing for Paradise. Saudades do Paraíso, Paulus, 2007.
- VON FRANZ, M.L, Archetypal Dimensions of the Psyche. Bostin: Shambala, 1997
Texto adaptado de Guia para Obra Completa de C.G.Jung - Robert H. Hopcke

