
Complexos
O conceito de complexo está estreitamente ligado ao conceito de arquétipo e de inconsciente coletivo de Jung, que ele formulou com base em evidência empírica, na qual encontrou um pouco menos controvérsia. Enquanto trabalhava no Hospital Burgholzli, em Zurique, ainda jovem, ele empreendeu o desenvolvimento de uma tese de associação de palavras como meio de detectar as raízes inconscientes da doença mental. De modelo extremamente simples, o teste consistia em apresentar ao sujeito do teste uma palavra e solicitar dele uma resposta verbal espontânea à palavra. O Exame das respostas do sujeito, tanto verbais como não verbais, parecia indicar o que Jung chamava primeiramente de 'complexos com carga emocional' ( OC 2 §167, n. 42 ) e mais tarde de 'complexo de ideias com carga emocional' ( OC 2 §733 ), que impediram o curso normal da associação de palavras e que estiveram claramente relacionados com a patologia do paciente. Esses complexos de carga emocional, mais tarde simplesmente chamados de complexos, consistem, no ponto de vista de Jung, de dois componentes: o grupo de representações psíquicas e o sentimento característico ligado a esse grupo de representações.
Complexos podem ser inconscientes - reprimidos por causa da sensação dolorosa do afeto relacionado ou da inaceitabilidade das representações -, mas complexos também podem se tornar conscientes e, em última análise, parcialmente resolvidos. Qualquer complexo possui elementos relacionados com o inconsciente pessoal como também com o inconsciente coletivo. Um distúrbio no relacionamento com a própria mãe, por exemplo, pode resultar num complexo materno, isto é, um grupo de representações conscientes e inconscientes da 'mãe' com uma carga emocional específica ligada ao grupo de imagens da mãe. No entanto, o arquétipo de 'mãe' preexistente no inconsciente coletivo, comum a toda experiência humana, pode aumentar, distorcer ou modificar tanto a carga sentimental quanto o aspecto representacional do complexo de mãe dentro da própria psique.
Como os arquétipos, os complexos são potencialmente tanto positivos como negativos. O conhecimento consciente do objetivo e do afeto de um complexo pode servir para modificar suas consequências negativas, quando um estímulo particular constela o complexo, isto é, ativa as imagens e sentimentos que circundam o complexo no interior de um indivíduo. Todos os complexos têm um componente arquetípico, tornando-os, nos termos de Jung, a via regia para o inconsciente pessoal e coletivo ( OC 8, §210 ). Ao dar imagem a esse conceito de complexo, poder-se ia dizer que o complexo é como uma planta: parte dela existe e floresce acima do solo, na consciência, e parte dela se estende invisível por baixo do solo, onde está ancorada e se alimenta, fora da consciência.
Para começar:
- "Psicanálise e o experimento de associações", OC 2, §660-727
- "O diagnóstico psicológico da ocorrência", OC 2, § 728-792
- " A importância psicopatológica do experimento de associações", OC 2 , §863-917
- "Considerações gerais sobre a teoria dos complexos", OC 8/2 , §194-219
Para aprofundar:
- "Associação, sonho e sintoma do sistema histérico", OC 2, §793-862
- "A constelação familiar", OC 2, §999-1014
- "Os fundamentos psicológicos da crença nos espíritos", OC 8/2, §570-600
Obras relacionadas:
- "Considerações teóricas sobre a natureza do psíquico", OC 8/2, § 343-442
- "A Energia Psíquica", OC 8/1, §1-130
- " Aspectos psicológicos do arquétipo materno", OC 9/1, §148-198.
Fontes Secundárias
- "Complexo, arquétipo e símbolo na psicologia de C.G.Jung" - JACOBI, J. São Paulo: Cultrix, 1995.
Texto adaptado de Guia para Obra Completa de C.G.Jung - Robert H. Hopcke
